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domingo, 11 de outubro de 2015
sábado, 10 de outubro de 2015
IMPOSTO
Fábio Porchat
Fiscal toca a campainha. Homem abre a porta.
- Boa tarde, eu sou do governo e vim coletar o Impár.
- O que ?
O Impár, que é o imposto do ar. A partir de agora, o cidadão paga pelo ar que respira.
- Amigo... o oxigênio é público.
- Se é público, quem cuida é o governo. Já vi que, desde que eu cheguei, o senhor já respirou umas 15 vezes. Cem reais; ou o senhor pode fechar o pacote de 200 reais que já inclui o imposto sobre a emissão de gás carbônico.
- O que ? Olha só... eu não vou pagar nada !
- Então eu vou ter que pedir pro senhor parar de respirar.
- Mas daí eu vou morrer.
- Aí então, o senhor tem que pagar o Importe, que é o imposto sobre a sua morte, no valor de 600 reais. É mais caro porque é taxa única.
- Isso é um absurdo !! Eu não vou pagar nenhum centavo; se quiser me processa !
- A ordem é mandar prender.
- Então me prende.
-Aí eu vou precisar te cobrar o Imprende; o senhor tem o CPMS pago aí?
- O que ?
- É que eu tô vendo que o senhor tá com um bronzeado bonito e agora o governo tá cobrando imposto em cima da luz solar.
CPMS é o Comprovante de Pagamento da Melanina Solar.
- Sr.Fiscal, deixa eu te perguntar:- Igreja paga imposto ?
- Não.
O homem pega dois gravetos no chão, forma uma cruz : - Tá fundada a minha Igreja... o Senhor não vai colaborar com uma oferta ?
Bolsista do Programa Nacional de Apoio a Pesquisadores Residentes da Biblioteca Nacional (PNAP-R), Silvana Jeha teve a ideia de pesquisar sobre a história da tatuagem no Brasil em função de uma pequena seção de sua tese, cujo tema é: os marujos e recrutas da Armada do Império do Brasil.
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A pesquisadora Silvana Jeha no Gabinete da Biblioteca Nacional.
De acordo com a pesquisadora, a história da tatuagem no Brasil, e em diversos países, até a década de 1980, está ligada a grupos marginalizados e não há registros sistematizados fora dos arquivos médicos e policiais – presídios, manicômios e institutos médico-legais. Por isso, um acervo de grande abrangência, como o da BN, é fundamental para realizar uma pesquisa dessa natureza: “não poderia fazer tal pesquisa, não fosse uma instituição que abriga tanto material plural sobre o tema”, comenta Silvana.
“Com o acervo da BN pude esboçar os principais grupos de tatuados no Brasil antes da popularização da tatuagem no ocidente, a partir da década de 1970. São indígenas, africanos, imigrantes sírio-libaneses, japoneses, portugueses, prostitutas, trabalhadores, religiosos, marinheiros, soldados, prisioneiros, usuários de manicômios e personagens únicos. O desafio principal é justamente apresentar a tatuagem como um traço da cultura popular do Brasil nos últimos dois séculos”, relata a bolsista.
No período do século XIX, Silvana Jeha levantou centenas de anúncios de fugas de escravos para entender quais eram as escarificações (incisões superficiais na pele) que marcavam os indivíduos das diversas sociedades africanas que vieram para o Brasil. No final desse século, a partir de uma crônica de Machado de Assis publicada na Gazeta de Notícias, baseada em uma notícia de assassinato cujo suspeito era tatuado, ela reconstituiu a cena do crime, bem como as diversas informações do possível assassino, pesquisando em notícias de quatro jornais.
“Mas nem só nos periódicos estão os tesouros. No acervo iconográfico há diversas gravuras de escarificações de africanos, inclusive do século XVIII. Entre os manuscritos, encontrei o famoso texto “Tatuagem no Rio”, de João do Rio, que pode ser lido no original através da BNdigital. E no acervo de Obras Gerais consultei preciosidades bibliográficas da primeira metade do século XX”, conta a pesquisadora.
Silvana Jeha é doutora em História pela PUC-Rio (2011), onde defendeu a tese A galera heterogênea: Naturalidade, trajetória e cultura de recrutas e marinheiros da Armada Nacional Imperial do Brasil, c. 1822 – 1854. No mestrado, estudou as chamadas guerras justas contra botocudos e kaingangs no século XIX. Realizou diversas pesquisas textuais e iconográficas para o mercado editorial, bem como redação de livros de divulgação. Trabalhou com temas relacionados a presidiários e publicou dois artigos sobre marinheiros, um deles acerca de diários de marujos norte-americanos no Rio de Janeiro no século XIX. Em um CD-ROM da FIOCRUZ, publicou um artigo sobre a história de um barbeiro sangrador congolês e sua família no Rio de Janeiro oitocentista, que sairá em livro este ano.
REFERÊNCIAS
A pesquisadora Silvana Jeha separou algumas referências interessantes sobre o assunto, todas elas no acervo da Biblioteca Nacional. Veja a seguir:
AFRICANOS
- Johann Moritz Rugendas
- 1825 - desenho de negra com escarificações leves no rosto:
http://objdigital.bn.br/acervo_digital/div_iconografia/icon325981.htm - década de 1820 - desenho de negro com marcas mais fortes:
http://objdigital.bn.br/acervo_digital/div_iconografia/icon325979.htm
- 1825 - desenho de negra com escarificações leves no rosto:
- Frederico Guilherme Briggs
- década de 1830 - negros que vão levar açoutes:
http://objdigital.bn.br/acervo_digital/div_iconografia/icon703598.jpg
- década de 1830 - negros que vão levar açoutes:
- 1823 - Anúncio de escravo cita africano da nação Mujao, de Moçambique, com marca de escravidão e marca de nação. Ver primeiro anúncio abaixo de 'Escravos fugidos':
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=094170_01&PagFis=2731
CRÔNICAS
- 1904 - Manuscrito A tatuagem no Rio, de João do Rio.
http://objdigital.bn.br/acervo_digital/div_manuscritos/mss_I_07_19_012/m... - 1895 - Crônica de Machado de Assis sobre homem tatuado na Gazeta de Notícias
http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=103730_03&PagFis=12391
REPORTAGENS
- 1972 - O Diário da Noite traz reportagem com Tattoo Lucky, o primeiro tatuador a abrir loja no Brasil.
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=221961_05&PagFis=18654 - 1923 - Matéria sobre tatuagem de marítimos em O Paiz.
http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=178691_05&PagFis=12836 - 1927 - O Correio Paulistano traz matéria ilustrada sobre as tatuagens do Carandiru.
http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=090972_07&PagFis=26957
IMAGENS RELACIONADAS
O Correio Paulistano de 5 de agosto de 1927 traz matéria ilustrada
A descoberta das minas na região de Minas Gerais, Mato Grosso (Cuiabá) e de Goiás trouxe mudanças econômicas e sociais a estas regiões – e em todo território direta ou indiretamente. A primeira metade do século XVIII foi o período de maior volume de exportação de ouro do Brasil. A decadência da atividade mineradora começa na década de 60 deste mesmo século, após o apogeu da produção e da fuga do metal precioso das mãos portuguesas (geralmente para as mãos britânicas). A migração para as minas foi impressionante: vinham pessoas de toda Colônia e da Europa, seduzidos pela riqueza “fácil”. O fluxo de escravos que acompanhou esta explosão dourada foi imenso.
Ao mesmo tempo em que o ouro e as pedras brotavam da terra e dos rios (ou melhor, eram arduamente extraídos deles), o abastecimento de gêneros de primeira necessidade era precário. Passava-se fome porque ninguém queria se dedicar ao trabalho de subsistência, os alimentos e outros produtos básicos precisavam percorrer longas distâncias no lombo das mulas, pois, vinham de outras regiões do Brasil. Os preços subiam cada vez mais. Os arraiais das Minas Gerais, como as pessoas se referiam a toda área da mineração, conheceu seus dias de glória. O “Barroco Mineiro” é lembrado até hoje pelas igrejas ricamente adornadas com ouro e pedras, além das belas obras do mestre Aleijadinho. Uma pequena elite branca formava a nata daquela sociedade, geralmente era composta pelos homens de confiança da Coroa que cuidavam dos interesses de Portugal (e deles próprios), fiscalizando a mineração.
Muita gente enriqueceu, mesmo sob o olhar vigilante da Metrópole. Escravos conseguiram suas cartas de alforria. Era uma sociedade de homens – tanto entre os brancos livres quanto entre os escravos. Foi um período em que as escravas mulheres puderam se libertar graças aos casamentos não oficiais e ao amancebamento. Foi a época das “mulatas desinquietas” de que falou Antonil, da famosa e mal falada Chica da Silva. O luxo e a miséria nunca foram tão nítidos quanto nos Oitocentos mineiros.
João Antônio Andreoni, o Antonil, em "Cultura e Opulência do Brasil" (1711), já falava sobre os perigos que a cobiça pelas minas representava e sobre os efeitos da sua descoberta na economia colonial:
"Não há cousa tão boa que não possa ser ocasião de muitos males, por culpa de quem não usa bem dela. E até nas sagradas se cometem os maiores sacrilégios. Que maravilha, pois, que sendo o ouro tão fermoso e tão precioso metal, tão útil para o comércio humano, e tão digno de se empregar nos vasos e ornamentos dos templos para o culto divino, seja pela insaciável cobiça dos homens contínuo instrumento e causa de muitos danos? Convidou a fama das minas tão abundantes do Brasil homens de toda a casta e de todas as partes, uns de cabedal, e outros, vadios. (...) E o pior é que a maior parte do ouro que se tira das minas passa em pó e em moedas para os reinos estranhos e a menor é a que fica em Portugal e nas cidades do Brasil, salvo o que se gasta em cordões, arrecadas e outros brincos, dos quais se vêem hoje carregadas as mulatas de mau viver e as negras, muito mais que as senhoras. Nem há pessoa prudente que não confesse haver Deus permitido que se descubra nas minas tanto ouro para castigar com ele ao Brasil, assim com está castigando no mesmo tempo tão abundante de guerras, aos europeus com o ferro".
- Texto de Márcia Pinna Raspanti
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