domingo, 29 de maio de 2016

Lei Áurea: imagens da época e documentos originais

Lei Áurea: imagens da época e documentos originais





by Márcia
No dia 13 de maio de 1888, a Princesa Isabel Cristina Leopoldina Augusta Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga,assinou a Lei Áurea, que decretava a libertação dos escravos. A Biblioteca Nacional relembra a data disponibilizando imagens do documento original da minuta do decreto de extinção da escravatura, e também de uma das mais impactantes galerias de fotos do portal Brasiliana Fotográfica, a “Galeria do Dia da Abolição da Escravatura”.
Leia mais e veja a galeria de fotos na Brasiliana Fotográfica:http://brasilianafotografica.bn.br/?p=520
Conheça um pouco mais sobre a Princesa Isabel: http://bndigital.bn.br/?attachment_id=20554
Veja o original da minuta do “decreto de extinção da escravatura”:https://blogdabn.files.wordpress.com/…/minuta-do-decreto.pdf
Leia o teor da LEI Nº 3.353 de 13 de maio de 1888:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LIM/LIM3353.htm
 
leiaureaFBN
Foto: Albert Henschel. Negra Vendedora de Frutas, c.1870 / Acervo FBN.
FONTE: FBN.
Márcia | maio 13, 2016 às 5:00 pm | Tags: 13 de maio, Abolição, Lei Áurea, princesa Isabel, texto original | Categorias: dicas, História do Brasil | URL: http://wp.me/p41DOU-2mh

A História das Pequenas Coisas: o cotidiano dos anônimos

A História das Pequenas Coisas: o cotidiano dos anônimos

by Márcia
Contrariamente às grandes obras de arte, o encanto das pequenas coisas reside em não individualizar o gesto criador. Não há assinatura na parte inferior de tais peças. Arrancados a seu silêncio, a sua quietude, eles nos acenam com descobertas imprevisíveis. E é a história de nosso cotidiano que se expressa através de artefatos concretos. Da lembrança de ofícios esquecidos.
Descobrir a grande história das pequenas coisas é também uma forma de olhar. Neste olhar está contida a arte de viver, mas também de ver. De ver de perto. Pois atrás dos objetos está contida uma história outra. Aquela da mão dos homens, atarefada em extrair da natureza objetos de metal, madeira, vidro. E essa história é também a da destruição das florestas, rios e carreiras de pedras para a confecção de instrumentos de exploração. Os vários artefatos usados nos ofícios responsáveis pela mineração do ouro e diamantes, pela criação de muares e bovinos, pelo plantation de cana e outros produtos agrícolas estiveram associados a vários momentos de nossas transformações econômicas e de nosso empobrecimento ecológico.
E, sobretudo, é a história da exploração de um homem pelo outro. Nas mãos do escravo, a enxada; na do feitor, o chicote; na do senhor, o “pão” ou saco de açúcar. Logo, prazer e angústia também coabitam na história das pequenas coisas. Civilização e barbárie, harmonia e conflito podem se concentrar numa mesma peça.
Não à toa, a palavra “objeto” nasce no século XIV e designa, desde então, uma coisa material que pode ser percebida pelos sentidos: tato, olfato, visão, paladar – fazendo com que aquilo que na memória era pedra vire flor. Pois contém beleza, poesia e imaginação, mas não só. Por meio dos objetos e de nossa cultura material encontramos as relações sociais e modos de produção de nossos ancestrais. Sua transformação e daqueles que deles fizeram uso. O que os torna possíveis é tudo o que eles têm a dizer aos seus contemporâneos, e tudo o que a gente brasileira diz por meio deles.
O que parece uma cacofonia, ruído desencontrado, é música. São os sons da rua, da casa, dos instrumentos de trabalho ou de festas. Para isso é preciso olhar pelo retrovisor para ver como nossa gente era, como morava, vestia, comia, trabalhava, ria, amava e sonhava. De que forma seus problemas foram ultrapassados de geração em geração. Mas é preciso também olhar pelo buraco da fechadura, para enxergar como se comportava em sua intimidade nos momentos de medo, dor ou prazer.
Não há limites para se conhecer ou fazer história. O importante é que ela seja boa. Descobrir os caminhos da gente brasileira e conhecer mais e melhor o nosso passado é a receita para se gostar mais e melhor dele. - Mary del Priore.

“Feminino Cangaço”: mulheres que transgrediram as regras do sertão

“Feminino Cangaço”: mulheres que transgrediram as regras do sertão

by Márcia
            Como as mulheres entraram para o mundo do cangaço? De que forma sua presença alterou as relações entre os  homens? Raptadas, seduzidas, apaixonadas ou simplesmente atraídas por uma vida cheia de perigos e pela liberdade, as sertanejas que acompanharam os grupos de cangaceiros tiveram um papel importante e surpreendente nesse mundo. Elas também mudaram completamente a indumentária dos cangaceiros, criando roupas e acessórios coloridos e bordados, que marcaram sua imagem.
           O documentário “FEMININO CANGAÇO” dirigido por Lucas Viana e Manoel Neto, propõe uma reflexão crítica sobre a entrada das mulheres no cangaço, suas motivações, as superstições em torno delas, seus papeis dentro dos bandos, seus costumes, crenças e dramas pessoais. Trata-se de melhor compreender a importância das mulheres na construção do que hoje entendemos como o fenômeno do cangaço e as destacar como sujeitos ativos desta história, mulheres que transgrediram os valores sociais de sua época e cuja força surpreende ainda nos dias atuais.
Assista ao documentário:
Assista à reportagem da Rede Bahia:
 
mariabonita
Maria Bonita, que era conhecida por Maria do capitão ou D. Maria.

120 Livros Acadêmicos Para baixar grátis

120 Livros Acadêmicos Para baixar grátis

por Márcia
A Universidade Estadual Paulista ( UNESP ), Por Meio da Cultura Acadêmica (um dos Braços de SUA editora do principal), disponibiliza Mais de 120 Títulos Acadêmicos em Formato Digital Para o download grátis. Os Livros  estao Divididos EM 30 áreas do Conhecimento e São voltados parágrafo Estudantes de Graduação e pós-graduação Que precisam de materiais de Apoio Para desenvolver Projetos Acadêmicos.
Veja Listagem com 120 Livros Academicos parágrafo de download grátis:

Fonte: UNESP / Canal do Ensino.


LIVROS-Antigos
Márcia | maio 17, 2016, 17:02 | Tags: o download , grátis , LIVROS Acadêmicos , Unesp | Categorias: Dicas ,Educação | URL: http://wp.me/p41DOU-2mI

Casamento e virgindade no Brasil Colônia

Casamento e virgindade no Brasil Colônia

by Márcia
A Igreja precisava regulamentar, controlar desde o namoro às relações conjugais. Gestos miúdos de afeto, como o beijo, eram controlados por sua “deleitação natural e sensitiva”, sendo considerado “pecado grave porque é tão indecente e perigoso”. Além de evitar beijos, - os temidos “ósculos” -, devia-se estar em guarda contra as sutilezas das menores expressões de interesse sexual que não conduzissem ao que era chamado de “coito ordenado para a geração”. Dentro destas relações, quase não havia espaço para o amor erotizado e as mulheres se entregavam aos maridos por amor a Deus.
Tudo indica que ao final do século XVIII, alguns casais já tivessem incorporado as ideias da Igreja. E sobre o assunto, não foram poucos os depoimentos. Em 1731, por exemplo, certa Inácia Maria Botelho, paulista, parecia sensível ao discurso da Igreja sobre a importância da castidade, pois se negava a pagar o débito conjugal ao marido. Alegando ter feito votos quando morava com sua mãe e inspirada do exemplo das freiras recolhidas em Santa Teresa, se viu estimulada por esta virtude. Sobre o seu dever conjugal, contava o marido, Antônio Francisco de Oliveira ao juiz eclesiástico que na primeira noite em que se acharam na cama, lhe rogara a esposa que “a deixasse casta daquela execução por uns dias”, pois tinha feito votos de castidade.
Casos de desajustes conjugais devido à pouca idade da esposa não foram raros e revelam os riscos por que passavam as mulheres que concebiam ainda adolescentes. Há casos de meninas que, casadas aos 12 anos, manifestavam repugnância em consumar o matrimônio. Num deles, o marido, em respeito às lágrimas e queixumes, resolvera deixar passar o tempo para não violentá-la. Escolástica Garcia, outra jovem casada aos nove anos, declarava em seu processo de divórcio que nunca houvera “cópula ou ajuntamento algum” entre ela e seu marido, pelos maus-tratos e sevícias com que sempre tivera que conviver. E esclarecia ao juiz episcopal que “ela, autora do processo de divórcio em questão, casou contra sua vontade, e só por temor de seus parentes”. Confessou também que, sendo tão “tenra [...] não estava em tempo de casar e ter coabitação com varão por ser de muito menor idade”.
Os casos de casamentos contraídos por interesse, ou na infância, somados a outros em que idiossincrasias da mulher ou do marido revelam o mau estado do matrimônio, comprovam que as relações sexuais dentro do sacramento eram breves, desprovidas de calor ou refinamento. Cada vez mais se evidencia o elo entre sexualidade conjugal e mecanismos puros e simples de reprodução. Maria Jacinta Vieira, por exemplo, bem ilustra a valorização da sexualidade sem desejo. Ela se recusava a copular com seu marido “como animal”. Bem longe já se estava dos excessos eróticos cometidos quando das primeiras visitas do Santo Ofício à Colônia. Na Bahia do século XVI, Inês Posadas não parecia então muito preocupada em ter sido denunciada pelo fato de seu amante, durante o coito, retirar o membro de sua vagina para sujar-lhe a boca. O comportamento de Maria Jacinta ilustrava um consenso do Antigo Regime, verbalizado por Montaigne. A esposa devia ignorar as febres perversas do jogo erótico.
E como funcionava o matrimônio? Os casados desenvolviam, de maneira geral, tarefas específicas. Cada qual tinha um papel a desempenhar frente ao outro. Os maridos deviam se mostrar dominadores, voluntariosos no exercício da vontade patriarcal, insensíveis e egoístas. As mulheres por sua vez, apresentavam-se como fiéis, submissas, recolhidas. Sua tarefa mais importante era a procriação. É provável que os homens tratassem suas mulheres como máquinas de fazer filhos, submetidas às relações sexuais mecânicas e despidas de expressões de afeto. Basta pensar na facilidade com que eram infectadas por doenças venéreas, nos múltiplos partos, na vida arriscada de reprodutoras. A obediência da esposa era lei.
  • Mary del Priore. "Histórias da Gente Brasileira: Colônia". Editora LeYa, 2016.
nudez
“Retrato de Jovem Mulher” de Rafael Sanzio (1540-45).

Amor, ciúme e magia nas senzalas

Amor, ciúme e magia nas senzalas

by Márcia
No campo da violência entre casais, a historiadora Sílvia Lara recuperou histórias de escravos que matavam senhores ou homens livres da vizinhança por “afronta que estes lhe faziam andando amancebados com suas mulheres”. Não faltavam agressões por ciúme, uma vez que havia menos mulheres nos quilombos e plantéis. Inúmeros processos-crime registram agressões de forros ou libertos que reagiam às “velhacarias” das companheiras. Esses Otelos não perdoavam.
O caso de Miguel Moçambique é emblemático das tensões que atravessavam os amores de então: Miguel já cumpria pena, trabalhando para o Arsenal da Marinha, quando conheceu a preta Justina, que visitava com frequência Ilha Grande para vender alfinetes, agulhas e outras miudezas, além de se encontrar com ele. O sentenciado explicou no interrogatório a que respondeu que ajudava muito a dita escrava. Disse que mesmo os jornais que recebia da Marinha pelos serviços de carpinteiro, bem como o dinheiro recebido pela venda de chapéus de palha, que fazia em momentos de folga, gastava-os com Justina. Dava-lhes vestidos, saldava suas dívidas, e ainda, vez por outra, pagava os jornais que esta devia à senhora dela. Mas soubera que Justina o traía com um marinheiro “que a tinha sempre que queria”. Certa tarde, tendo sido levado ao porto, acorrentado a um outro preso, para trabalhar, Miguel pediu ao sentinela para falar com a escrava. Discutiram. Uma testemunha só o viu puxando pelas pernas de Justina enquanto a cobria de facadas. Aos 36 anos, foi condenado às galés para sempre.
Havia também quem recorresse ao sobrenatural para realizar a sua vingança. Manuel Querino lembra, dentre as práticas amorosas, a especificidade da magia, que empregava folhas para produzir infelicidades ou para fins libidinosos, tomadas em potagens ou em forma de remédios tópicos. Graças ao feitiço, ou ebó, colocado em lugar previamente escolhido, chamava-se o nome da pessoa a quem se queria atingir.
Por certo que não era um mundo cor de rosa este em que se movimentavam nossos avós de origem africana. O sistema era cruel. Ele separava famílias, amigos e amantes, esposa e marido. Multiplicava violências. Mas não só. Os arquivos demonstram, com documentos, que casais houve para contrariar a regra – companheiros no cativeiro e no casamento que, longe da equivocada “licenciosidade das senzalas”, comprovam o sentimento no interior dessas uniões.
 - Texto de Mary del Priore. Referência bibliográfica: "Conversas e  Histórias de Mulher", Editora Planeta, 2013.
Rugendas_-_Negro_e_Negra_n'uma_Fazenda
Negro e Negra numa fazenda, Rugendas.

Casamento na igreja é invenção medieval

Casamento na igreja é invenção medieval

by Márcia

      Antes, a união não era indissolúvel nem monogâmica. Além disso, era o pai que determinava com quem a filha se casaria. Confira os comentários de Mary del Priore no programa "Um Rio de Histórias", da Rádio CBN:

 
 
KonradCasamento_João_I_e_Filipa_Lencastre
Konrad von Altstetten. (1305-1340)Casamento de D. João I com Filipa de Lencastre, pintura do século XV.

A celebração do Corpus Christi

A celebração do Corpus Christi

by Márcia
A festa de Corpus Christi ou Corpo de Cristo é uma das mais antigas do catolicismo em todo o mundo. Foi instituída pelo papa Urbano 4°, em 1264, para ser celebrada na quinta-feira após o domingo da Santíssima Trindade, que ocorre, por sua vez, no domingo seguinte ao de Pentecostes. A presença real do corpo de Jesus no pão eucarístico e de seu sangue no vinho, após a consagração da missa, é um dos sete sacramentos da fé católica, e a festividade de veio reforçar tal crença. A celebração adquire maior força com a Contrarreforma, uma reação às ideias da Reforma Protestante, que passou a interpretar a missa como uma simples ceia comemorativa (o pão e o vinho apenas simbolizavam o corpo e o sangue de Cristo).
Câmara Cascudo destaca a importância da celebração em Portugal e no Brasil. “A mais pomposa, concorrida e rica das procissões católicas em Portugal e que manteve a tradição no Brasil. O maior número de devotos acompanhava o pálio sob o qual ia a Santa Hóstia, Corpo de Deus, numa custódia de ouro, erguida nas mãos da primeira autoridade sacerdotal. Não havia desculpas para uma ausência nem se queria faltar. Valia como demonstração de fé, exibição de prestígio sagrado, popularidade obstinada através dos séculos”.
Instituída pelo papa Urbano IV, no século XIII, há diferentes versões que explicam a sua origem. Uma delas é um milagre ocorrido na Itália, no qual a hóstia teria sangrado sem, contudo, manchar as mãos do sacerdote que celebrava o ofício, de forma a indicar sua pureza. Outra história diz que, em 1243, na Bélgica, uma freira teria tido de visões de Cristo, na qual ele lhe pede que sejam celebradas festas em homenagem à Eucaristia.
De acordo com Ricardo Luís de Souza, em “Festas, Procissões, Romarias e Milagres”, Corpus Christi a primeira procissão a desfilar no período colonial, em Salvador, no século XVI, por decisão dos jesuítas, e permaneceu financiada pelas Câmaras, mesmo depois da Independência. “E devido à sua importância, a participação dos moradores era compulsória em mais de um aspecto. Eles deveriam, por exemplo, por ordem do Senado da Câmara baixada em 1810 ‘caiar as frentes de suas Casas, armar de cortinados os seus portais, limpar as ruas ante as suas portas, deitar-lhe areia e folhas, e o que assim não o executar ficará incurso na pena de seis mil-réis, e trinta dias de cadeia”.
Segundo o mesmo autor, em São Paulo, no período colonial, padeiros e quitandeiras tinham como função organizar o jogo da péla, a ser apresentado no desfile das corporações de ofício durante a procissão de Corpus Christi. “Ora, em 1744, eles recusaram-se a apresentar a dança tradicional em protesto contra as regulamentações determinadas pelas autoridades municipais. E ainda, no mesmo sentido de crítica e contestação, o movimento abolicionista organizou uma procissão em São Paulo, sob a liderança de Antônio Bento, quando foi descoberta a tortura à qual um escravo havia sido submetido em uma fazenda paulista”, conta.
Mary del Priore destaca que “para diversos grupos que no Brasil se instalaram, a festa constituía uma forma de resistência e de reação contra as autoridades, quaisquer que fossem: o padre, o senhor, o governador, etc”. Com as comemorações de Corpus Christi não era diferente. Richard Burton a descreveria assim, em 1867. “É uma combinação de passeio, visita e piquenique_ na realidade é o derivativo, o grande desfile, para a pobre vaidade humana, aqui tão pouco exaltada, em comparação com a Europa”.
São Jorge, santo guerreiro, ocupava lugar privilegiado na procissão de Corpus Christi. Ele vinha em primeiro plano, segurando uma lança, montado em um cavalo branco, precedido por uma guarda de honra a cavalo, como descreveu Câmara Cascudo. O costume de decorar as ruas com tapetes coloridos veio de Portugal. No período colonial, as festas, religiosas e políticas, seguiam um determinado roteiro: missas, novenas, procissões, fogos, bailes.
Em um ambiente extremamente pobre em atividades sociais e culturais, estas ocasiões tinham grande importância para a população em geral. Os aspectos pagãos e populares marcavam presença. A Igreja tentava, geralmente em vão, normatizar esses eventos em que as pessoas costumavam cometer todos os tipos de excessos: de comida e bebida, danças, sexo. E mais uma vez, a ostentação era um dos elementos centrais do espetáculo.
Nicolau Sevcenko destaca que a procissão ainda era a mais importante festividade religiosa paulistana nos primeiros anos do século XX.  Em 1919, porém, a festa coincidiu com uma partida entre Paulistano e Palestra Itália, o que desfalcou consideravelmente, segundo um jornal da época, as associações masculinas que dela participariam. A tradição ainda persiste até hoje e, em muitas regiões do País, os fiéis decoram as ruas com serragem, areia e outros materiais coloridos.
Texto de Márcia Pinna Raspanti

domingo, 15 de maio de 2016

História: As causas da Guerra do Paraguai - PGM 11




Pátio da Estação Ferroviária  de Araras 1880 ~Fundação Moreira Salles - Marc Ferrez
Pátio da estação ferroviária de Araras, 1880 circa. Araras / Instituto Moreira Salles

Lei Áurea

13 de maio

Lei Áurea: 128 anos da abolição da escravatura e a ação de liberdade

Em 1882, no Recife/PE, o escravo Simplício Manoel pleiteou por meio de ação judicial algo extremamente caro a todo cidadão e que, à época, beirava um sonho áureo: sua liberdade.
Simplício era representado pelo notável advogado e jurista Tobias Barretto, formado pela Faculdade de Direito da capital e uma das figuras mais importantes do movimento intelectual conhecido como a Escola do Recife. Verdadeiro mestre da oratória, ocupou, ainda, a cadeira nº 38 da Academia Brasileira de Letras.
No processo cível em questão, em que figurava no outro polo da demanda o proprietário do escravo, Ernesto & Leopoldo, discutia-se o valor a ser pago para obter a carta de alforria. Ernesto & Leopoldo – Ernesto José Felippe Santiago e Leopoldo José Felippe Santiago – eram donos, à época, de uma loja de joias, estabelecida na Rua do Cabugá.

Sem acordo em relação ao preço do escravo, o proprietário requereu que peritos fossem chamados para atribuir um valor ao escravo. Durante audiência de avaliação, o perito desempatador achou ambos os laudos excessivos – um muito alto e outro muito baixo. Em respeito ao direito de propriedade, entretanto, desempatou pelo laudo do perito do proprietário, no valor de um conto de réis.
Considerando esse arbitramento irregular e prejudicial a seu representado, Tobias Barretto peticionou ao juiz para que se realizasse novo arbitramento. Finalmente, as duas partes entraram em acordo para que fosse pago o valor de seiscentos mil réis.
Em 13 de novembro de 1882, Simplício Manoel tornou-se um homem livre.
Figura 1: Petição que solicitava nova avaliação do escravo. Figura 2: Declaração que concedeu 
liberdade a Simplício Manoel.
Escravidão e a Justiça
As ações de liberdade tinham como marco inicial de seu processo de tramitação o recebimento pelo juiz de requerimento, assinado por pessoa livre, a pedido do escravo. O magistrado procedia à nomeação de um curador e, então, ordenava o depósito - lugar onde o escravo ficava geralmente aos cuidados do curador.
Em seguida, o curador procedia à feitura de um requerimento expondo as razões pelas quais o representado pedia sua liberdade. Embora houvesse possibilidade de resolução amigável da questão, o advogado do réu, senhor do escravo, normalmente apresentava outro requerimento, em defesa de seus interesses.
Testemunhas eram ouvidas, provas colhidas, laudos feitos, e, como tradicionalmente, ao final o juiz apresenta um relatório do processo com sua decisão, passível de recurso.
Legislação
A garantia de ser dono de seu próprio arbítrio, entretanto, não foi um processo simples. Foi fruto de árduos conflitos entre senhores e escravos, políticos e intelectuais, abolicionistas e escravistas, e culminou, em 13 de maio de 1888, com a promulgação da lei Áurea.
Plenário do Senado no dia da edição da lei áurea.
A legislação, utilizada nesse caso favoravelmente aos escravos, foi por séculos instrumento repressor, tendo as disposições variado em larga medida do século XVI ao XIX, indo da permissão ilimitada ao escravismo, às restrições ao tráfico e, enfim, à abolição.
Entre as normas emblemáticas do período estão o alvará de 10 de março de 1682, que instituiu medidas de repressão aos quilombolas de Palmares; e o alvará de 16 de janeiro de 1773, que determinou que todos os escravos residentes em Portugal que se encontravam na quarta geração de cativeiro e os que nascessem a partir da publicação da lei, e estivessem na terceira geração, seriam libertados.
O Tratado de Aliança e Amizade, por sua vez, assinado pelo príncipe João em 1810, foi o instrumento por meio do qual se firmou compromisso com a Inglaterra no sentido da abolição gradual do comércio de escravos no Brasil. Da mesma forma, a lei Eusébio de Queiroz, de 4 de setembro de 1850 foi um marco na efetiva abolição do tráfico de escravos, estabelecendo medidas para sua repressão.
A lei do ventre livre, por seu turno, sancionada pela princesa Isabel em 28 de setembro de 1871, foi mais um passo na direção do fim da escravatura, ao declarar "de condição livre os filhos de mulher escrava que nascerem desde a data desta lei, libertos os escravos da Nação e outros", e providenciar "sobre a criação e tratamento daqueles filhos menores e sobre a libertação anual de escravos".
A lei dos sexagenários, de 28 de setembro de 1885, então, concedeu a liberdade aos escravos maiores de sessenta anos. Em clima de forte ebulição social, o país assistiu, em 1888, à princesa decretar a abolição da escravatura e transformar os rumos da história.

LEI Nº 3.353, DE 13 DE MAIO DE 1888
Declara extinta a escravidão no Brasil.
A Princesa Imperial Regente, em nome de Sua Majestade o Imperador, o Senhor D. Pedro II, faz saber a todos os súditos do Império que a Assembléia Geral decretou e ela sancionou a lei seguinte:
Art. 1°: É declarada extincta desde a data desta lei a escravidão no Brazil.
Art. 2°: Revogam-se as disposições em contrário.
Manda, portanto, a todas as autoridades, a quem o conhecimento e execução da referida Lei pertencer, que a cumpram, e façam cumprir e guardar tão inteiramente como nella se contém.
O secretário de Estado dos Negócios da Agricultura, Comercio e Obras Publicas e interino dos Negócios Estrangeiros, Bacharel Rodrigo Augusto da Silva, do Conselho de sua Majestade o Imperador, o faça imprimir, publicar e correr.
Dada no Palácio do Rio de Janeiro, em 13 de maio de 1888, 67º da Independência e do Império.
Princeza Imperial Regente
___________________________________________________________________
Após a promulgação da lei, os jornais comemoraram a extinção da escravidão no Brasil. Em editorial de 13 de maio de 1888, A Provincia de São Paulo, atual O Estado de S.Paulo, anunciava que "a lei que vai afirmar o voto nacional sai do parlamento no meio de festas".
"É o inverso do que nos ensina a história. A libertação dos escravos faz-se no Brasil por um acentuado movimento da opinião, pela capitulação franca das últimas forças de resistência, pela desagregação dos elementos conservadores, mas em plena paz, sem perturbação da ordem, pelo congraçamento dos combatentes da véspera."
Dois dias depois da promulgação da lei, em 15 de maio, o periódico comemorou: "Já não há mais escravos no Brasil".
"Aí está uma vitória esplêndida da opinião, a afirmação do quanto pode um povo quando sabe fazer valer a sua vontade."