quinta-feira, 31 de março de 2011

FATEC Piracicaba oferece curso de oratória

A FATEC Piracicaba estará promovendo o curso de Oratória, abrangendo informações sobre saúde vocal, uso de telefone e planejamento de reuniões administrativas, ministrado pelo prof. Nélson Bertolini, profissional de Comunicações Sociais há muito tempo. O objetivo do curso, além de orientar para a comunicação clara, expressiva e persuasiva, busca desinibir os participantes, com muitos exercícios práticos, gravados, para auto-avaliação. Destina-se principalmente a pessoas que se utilizam da voz como instrumento de trabalho ou persuasão, como vendedores, professores, políticos, pregadores, radialistas,contabilistas, advogados, executivos de todos os níveis. A duração do curso, sempre aos sábados, é de 35 h, das 13 h às 18 h. As aulas estão programadas para os dias: 7, 14, 28 de maio – 4, 11, 18 e 25 de junho. Os participantes receberão material didático para exercícios, apostila, certificado final e “coffee-breaks” durante as aulas. Informações pelo telefone 3413-1702. A FATEC Piracicaba fica na R. Diácono Jair de Oliveira, 651, no bairro Santa Rosa (saída 141 da Estrada Limeira Piracicaba – a 1, 5 Km do Shopping Piracicaba), na entrada do Parque Tecnológico Engenheiro Agrônomo “Emílio Bruno Germek”. O número de vagas é limitado, para melhor aproveitamento e orientação individual aos participantes.
(nb. MTb. 8.265 – mar/2011 – cel. 9706-8705)

terça-feira, 29 de março de 2011

30 anos do estúdio J.C. Violla

Rua Alves Guimarães, 445, Pinheiros, cidade de São Paulo. Mais de 21 mil alunos em 30 anos de aulas dadas no mesmo endereço. São números muito expressivos e exclusivos, que transformam o estúdio de J.C. Violla em um “case”. Não foram poucas as escolas que fizeram sucesso e depois fecharam, e o seu estúdio de uma sala só atravessou todas as turbulências dessas três décadas, mantendo-se lotado.
Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, J.C. Violla conversou sobre essa singularidade, dentre outras, do seu percurso profissional. “Tive e ainda teria possibilidade de ter uma escola grande, com muitas salas. Vários alunos me convidaram para esse projeto, outros queriam abrir uma casa noturna com o meu nome, uma confecção, um café, propuseram franquias do estúdio em outros Estados. Talvez não tenha visão de empresário. Durante alguns anos, me perguntava se não tinha jogado fora essas oportunidades, se tinha feito burrice. Mas o que eu sei é dar aula e dançar, dediquei a minha vida a isso, não sei fazer outra coisa. E dei cada aula prestando atenção em cada um desses mais de 21 mil alunos.”
Os próprios alunos se espantam com a memória do professor. “Dou aula há mais de 35 anos e sou muito bom fisionomista. Se não reconheço de imediato um ex-aluno, basta que tire o sapato e mostre o seu pé. Às vezes, estou na praia, vejo um pé passando, subo o olhar e encontro um rosto conhecido. O pé é muito importante no meu trabalho, talvez por influência de Dona Maria, minha professora que claudicava, ou pela minha facilidade, desde criança, para saltar bem alto. Sei que não é comum, mas conheço as pessoas pelo pé.”
Além de ter sido a primeira a lhe dizer que era bailarino, Maria Duschenes também foi responsável por sua iniciação na carreira de professor. Sua primeira aula foi no ginásio do Sesc Consolação, onde Dona Maria, a mestra que trouxe os estudos de Laban para São Paulo, dava um curso para 200 terapeutas. “Foi entre 1973/1974, e assustei quando ela simplesmente me colocou para dar aula para eles.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.30 de dezembro de 2010

Xuxa Maria da Graça Meneghel

‘Estou velhinha para saber o que quero’
23 de dezembro de 2010
Categoria: Celebridades, Entrevistas, TV
Aline Nunes Jornal da Tarde
Nos anos 80, a gaúcha Maria da Graça Meneghel desfilou pelo Brasil e estampou mais de 100 capas de revistas – por causa do trabalho de modelo e de seu namoro com Pelé. A convite do diretor Maurício Shermann, Xuxa – como viria a ficar conhecida – estreou na TV Manchete em 1983, no Clube da Criança. Três anos depois, foi para a Globo apresentar o Xou da Xuxa. Em poucos anos, conquistou o título do qual ela tanto se orgulha: rainha dos Baixinhos.
Hoje, aos 47 anos, Xuxa já gravou 16 discos para o seu público. Só com Xou da Xuxa (1988), vendeu 3,2 milhões de cópias. Em 1991, a revista Forbes apontou a brasileira na 37ª posição do ranking do show business internacional, com um faturamento de US$19 milhões por ano, à frente do astro Mel Gibson.
Ano que vem, ela completará 25 anos de Globo, sem fazer o sucesso de outros tempos. Os números comprovam. Hoje, seu programa, TV Xuxa, exibido aos sábados, rende audiência média de 10 pontos, contra os 24 pontos que a apresentadora dava em 1991. Ela se defende, dizendo que nem as novelas dão o mesmo Ibope de antes. É verdade. Mas as novelas não tiveram queda tão forte. Há dez anos, O Clone teve média de 48 pontos. Hoje, Passione tem dado 35 pontos, queda de 27% na audiência – bem menos que os mais de 50% sofridos por Xuxa.
Em entrevista ao JT, a apresentadora – que terá um especial de Natal, amanhã, às 21h55, na Globo – fala da sua atuação à frente da Fundação Xuxa Meneghel, que luta pelos direitos de jovens e adolescentes, da relação com a filha, Sasha, 12 anos, e se esquiva quando o assunto é vida amorosa. Confira:
Este ano, a Fundação Xuxa Meneghel completa 21 anos. Qual a maior dificuldade que passou com a instituição?
O fato de deparar com novas necessidades. As crianças precisam de tecnologia, de novos suportes para o desenvolvimento. Há sete anos, eu não recebia nenhuma ajuda. Agora, temos pessoas que sonham comigo. Quando várias pessoas sonham juntas, o resultado é muito melhor. Sempre que posso, vou lá. A Sasha já foi comigo algumas vezes. Mas ela tem as atividades dela. Por isso, durante a semana não sobra muito tempo.
Você pretende fazer outras ações beneficentes, como a que fez no Maracanãzinho, que vai ao ar amanhã, na Globo?
É o segundo show de Natal que fazemos lá. Se puder, quero fazer sempre!
Voltando à Sasha… você é o tipo de mãe controladora?
Se for necessário, sou, sim. Mas sempre respeitando o espaço da minha filha.
Preocupa-se da Sasha seguir seus passos?
Ela vai seguir o caminho que quiser. Eu sempre estarei por perto.
O que nunca deixaria a Sasha fazer?
Algo que a machuque.
Como é a sua relação com o pai dela, Luciano Szafir?
Melhor impossível!
O que você gosta de fazer com Sasha e nas suas horas livres?
Ficar com ela já é um ótimo programa. Ver filmes, viajar, brincar. Tudo é bom.
Do que mais você sente saudade da sua época de criança?
Do cheiro, do gosto das frutas, de poder comer tudo, de não ter grandes preocupações. Só precisava tirar notas boas.
Que hábitos preservou da época em que vivia no Rio Grande do Sul?
Não bebo chimarrão nem como carne. Mas o sotaque até hoje me persegue.
Seu pai lhe deu o nome de Maria da Graça em homenagem à Nossa Senhora da Graça. Você é devota de algum santo?
Eu sou católica e creio em Deus acima tudo. Respeito muito todas as religiões, mas rezo pros meus santos: São Judas Tadeu, Nossa Senhora Desatadora dos Nós, Nossa Senhora das Graças, São Francisco
Qual foi o momento mais difícil da sua vida? Por quê?
Não gosto de falar de momentos difíceis, eles já passaram.
E o que já fez e se arrependeu?
Acreditar demais nas pessoas.
Pensa em parar de trabalhar com o público infantil?
Com certeza, um dia isso vai acontecer. Quando? Não sei.
Gostaria de ter mais espaço na Globo?
A Globo sabe o que é melhor pra mim e pra eles. Estou tranquila.
Você já teve programas com Ibope elevado. Hoje, o quadro é outro. Sente falta de render altos índices de audiência?
Como no passado? Nem novela dá mais Ibope como antes. Isso não pode ser preocupação do artista, e sim dos diretores. Trabalho com diretores que brigam por mim: Roberto Talma e Mariozinho Vaz.
O que gostaria de fazer na TV?
Acho que já fiz de tudo um pouco.
Como se vê no trabalho e na vida pessoal daqui a 10 anos?
Com 57 anos, com muito mais experiência, mais madura e com mais histórias pra contar. Mas sem botox.
Por ser uma pessoa pública, sempre existem especulações em torno da sua vida amorosa. Como lida com isso?
Eu? Muito bem. Acho que a imprensa é que precisa lidar melhor com a minha vida amorosa.
Você tem medo de dar início a um relacionamento amoroso, por causa da repercussão?
Como assim? Você acha que se eu quiser ficar com alguém eu deixo de ficar porque podem falar? O que é isso? Se eu tivesse 20 anos, até poderia me preocupar com isso. Mas estou bem velhinha pra saber o que eu quero, quando e como.
Você está solteira?
Nunca casei.
O que falta acontecer na sua vida?
Falta viver tudo o que Deus me reservou.



José de Abreu

José de Abreu fala sobre drogas, aborto e política
31 de janeiro de 2011
13h25
ALINE NUNES Jornal da Tarde
José de Abreu gosta de dizer que, para ele, fazer novela das nove ou Malhação não faz diferença. Aos 64 anos e há três décadas atuando em obras da Globo, ele está prestes a estrear em ‘Insensato Coração’. Seu personagem, um homem que já foi famoso e agora vive na sombra do reconhecimento e do conforto que um dia teve, entrará na novela nos próximos capítulos. O personagem é um sujeito bem diferente de Zé – como o ator é chamado pelos amigos, que gosta mesmo é de trabalhar. E não teve vida fácil. Em 1968, aos 21 anos, passou 2 meses preso, vítima da Ditadura Militar. Depois, saiu do Brasil e foi viver em Londres, onde lavou pratos. Sua experiência seguinte foi como motorista de ônibus em Amsterdã. Na Grécia, foi servente de pedreiro. Para ele, o que vale é aproveitar a vida e agregar conhecimento, ainda que sob efeito de ácido. Como contou na entrevista a seguir. Confira:
O estilo do seu personagem (Milton) é bem recorrente nas novelas do Gilberto Braga. Não teve uma má impressão em fazer?
Não. Eu estava fazendo ‘Malhação’ quando o Dennis (Carvalho) estava dirigindo ‘Dalva & Herivelto’ (2010). Daí, encontrei com ele no Projac e fiz um verdadeiro escândalo, disse que tinha adorado a minissérie. Dei um abraço nele e falei: “Vamos fazer a novela do Gilberto (Braga)”. Pedi o papel, mesmo. Era para o Daniel Dantas fazer, mas ele ficou ocupado com o seriado ‘Aline’. Então, me chamaram para o lugar dele.
Quando você foi escalado para ‘Malhação’, se sentiu menosprezado por ser uma novela juvenil? Não. Eu pedi para fazer Malhação. Já tinha feito em 2003, com a Maitê (Proença). Eu adorei trabalhar com a meninada. Não fico preocupado de não ter personagem. A diferença que ganho de salário entre quando estou em casa e quando estou trabalhando é pequena. Mas gosto de sair de casa, ir para o Projac. Não vejo problema em fazer ‘Malhação’ ou novela das nove. Gosto dos jovens.
Mas você já chegou a dizer, no Twitter, que os jovens de hoje são muito hipócritas. Por quê?
Ah, foi numa discussão eleitoral. O Serra levantou na campanha as coisas mais retrógradas. Até essa coisa que o Índio(da Costa, o político do DEM, vice-presidente do José Serra nas eleições de 2010) começou a fazer, de relacionar o PT com maconha… Aí, brinquei que ele era surfista e surfista e maconha têm tudo a ver. Mas enfim… o que falei é que o jovem que usa droga no final de semana tem uma postura na campanha hipócrita, que não é a verdadeira.
Então, você estava defendendo a Dilma Rousseff?
Não é isso. Para mim, os jovens assumiram essa postura no Twitter só para penalizar a Dilma, como a mulher que aprova o aborto e a união entre pessoas do mesmo sexo. A juventude que odeia o PT defende uma postura do Serra que nem ele mesmo tem. A mulher dele fez um aborto, na época em que ele esteve exilado, no Chile. Aliás, até hoje a classe média faz muito aborto, frequenta clínicas de aborto na Tijuca, em Botafogo (bairros do Rio). É muito fácil fazer com cuidado, com preparo. Já a mulher que é pobre, mora no meio do mato, na favela, no interior, não pode fazer aborto. Tem de morrer. Isso é doido.
Você é a favor do aborto e da legalização da maconha?
Eu sou a favor da responsabilidade do cidadão. A mulher precisa chegar no SUS e dizer: “Estou grávida, mas não quero ter o filho”. Tem de ter um prazo, um tempo certo, o seguro. Tem de ser assim. Ela vai lá e faz porque quis fazer. Sobre as drogas… o crack você fuma uma vez e está viciado. Você nunca ouviu falar que a pessoa fumou tanta maconha e bateu o carro ou assaltou alguém na esquina. Convencionou-se socialmente que maconha é uma coisa de favelado. Por mim, a maconha tinha de ser liberada. O álcool provoca mais conflitos sociais. Não tem lei seca para a maconha. A maconha não muda nada na sua vida. No máximo, você vai sair rindo.
Você já usou?
Eu usava maconha, tomava LCD. Era normal. Eu morei em Londres. Lá era liberado. Ninguém dava bola. Mas não uso mais. Foi uma coisa política. O movimento hippie, do qual eu participava, não tinha aquela coisa de ficar sem tomar banho. Era uma coisa mais profunda. A maconha era uma coisa de comunidade, de todo mundo fumar o mesmo baseado.
Você nunca teve uma experiência negativa com ácido?
A gente não tomava ácido para fazer besteira. Tomava para ampliar o conhecimento. Mas a gente se cuidava. Uma vez, li um livro que falava de experiências dos índios da Amazônia, de tribos que tinham essa coisa de ampliar o conhecimento para atingir um outro nível de percepção da vida. Quando a gente fazia uma viagem, a gente se concentrava. E havia pessoas que não tomavam o ácido para poderem cuidar da gente. Era uma dificuldade enorme só pra trocar um disco (risos). Com alguém de fora, não precisávamos nos preocupar com isso.
Como você se manteve no tempo em que viveu em Londres?
Trabalhava das 11h às 15h, lavando pratos. Terminava o serviço, lavava a cozinha, colocava o lixo para fora e estava pronto. Depois, em Amsterdã, fui motorista de um ônibus de turismo alternativo. Depois, fui para uma ilha na Grécia e fui servente de pedreiro. Isso foi muito duro. Minha vida dá um livro. Tanto que estou há dez ano tentando escrever.
Por que você fala que foi tão duro quando viveu na Grécia?
Eu não aguentei muito como servente. O trabalho era muito pesado. Doía o corpo todo. Machucava muito a mão. Eu misturava cimento, cal e água e levava naquele carrinho de pedreiro. Era muito pesado. Eu morava numa Kombi. Comia basicamente arroz integral, feijão azul, muito grão, cereal e pouquíssima carne.
E foi nessa época então que você foi exilado e teve de deixar o Brasil? Aliás, qual foi o motivo?
Sim. Mas eu me auto exilei. Não fui perseguido. Fui preso no Congresso da UNE, em 1968. Fiquei dois meses preso. Sofri muito, mas não fui maltratado. Deus me livre de ser torturado. Eu sonhava todas as noites com isso. Só sabia de casos. Um vizinho tinha a casa invadida às 3 horas da madrugada, estupravam a mulher dele e ainda faziam o coitado confessar que tinha sido ele.
Por esse seu envolvimento político, que político brasileiro você gostaria de ser?
Ah, o Lula. Eu fui aprendendo a gostar dele. O Lula presidente virou uma coisa impressionante. Ele é muito sabido, tem uma grande sensibilidade política.
E quem é a pior figura no nosso cenário político?
O Paulo Maluf. O doutor Paulo, com aquela cara de pau, é imbatível. Ele fala as mesmas coisas há 30 anos. Qualquer jornalista pergunta e ele responde o que quer. Ele criou um personagem e acredita nisso. Um dia, encontrei com ele num evento e ele soltou aquele: “Meu amigo”. Íntimo mesmo, sabe? Mas eu tenho certeza de que ele não fazia menor ideia de quem eu era. Tudo cena.
Você está na Globo há 30 anos. O que faria você deixar a emissora?
Só sairia se fosse para fazer novela na Record. Mas isso não vai acontecer. A Record já me ofereceu uma fortuna, e a Globo cobriu. Gosto de ir lá (na emissora). Conheço todo mundo, do guarda do estacionamento ao cara da iluminação. Gosto de usar a camisa do Flamengo no dia seguinte a uma vitória do time e ver um monte de gente no Projac com a camisa.





"O futuro é um edifício misterioso que levantamos na terra com as próprias mãos, e que mais tarde deverá servir-nos a todos de moradia."Victor Hugo

O eterno contador de histórias

Basílio de Moraes Cavalheiro Filho (dezembro de 1916, março de 2011)
Quando criança, Basílio viu São Paulo ainda sob a luz dos lampiões a gás. Já idoso, divertia amigos contando que quando moleque de calças curtas, ele e os amigos corriam pelas ruas do Centro atrás do funcionário público que acendia os lampiões somente para ter o prazer de apagá-los.
Ainda jovem para lutar, participou da Revolução Constitucionalista de 1932 como mensageiro. Aos 16 anos ficou órfão de pai e foi trabalhar como office-boy. Participou de competições de natação no Rio Tietê e, na década de 1940, andou de moto em Interlagos . Estudou contabilidade e foi diretor do Sindicato dos Contabilistas de São Paulo, além de professor de Contabilidade Geral e Industrial. Além de seu próprio escritório, atuou na área de loteamentos em Serra Negra, Niterói e Ubatuba. No início da década de 50, conheceu Ubatuba, para onde mudou-se em 1959 e abriu na cidade uma loja de materiais de construção.(Diário de São Paulo)
Foi vereador várias vezes, presidente da Câmara e prefeito da cidade em duas gestões, na década de 1970. Adorava também o ritmo da cidade grande e, até poucos meses antes de adoecer, ainda morando em Ubatuba, vinha periodicamente a São Paulo. Em Ubatuba, onde morou até o fim da vida, tinha amigos em todos os lugares e, ao andar pela cidade, parava para cumprimentar e conversar com cada um deles, tomar um cafezinho e talvez comer um salgadinho. Parecia imortal. Mas, em 15 de março, aos 94 anos, partiu, deixando esposa, filhos e netos, que ficam com as boas lembranças de um incansável contador de histórias.

domingo, 27 de março de 2011

Ana de Hollanda ''O jogo é violento''

João Bosco Rabello e Julio Maria - O Estado de S.Paulo

27 de março de 2011

BRASÍLIA
Ministra da Cultura fala sobre as polêmicas de sua recém- iniciada (e já agitada) gestão


Ana de Hollanda sabia que o jogo seria violento. Seu irmão Chico Buarque avisou. Seus melhores amigos alertaram. "E, olha, confesso que está sendo mais violento do que imaginei", diz. A vaidade denunciada no cuidado com as unhas e o batom, a voz macia de cantora desde a juventude e a aparência de fragilidade escondem a determinação de enfrentar os conflitos gerados desde sua posse.
Poucas vezes se viu um início de gestão de tamanha turbulência na pasta da Cultura. Antes mesmo de tomar pé dos problemas herdados e ainda sem saber de qual orçamento disporia, foi alvo de furiosa campanha de segmentos insatisfeitos com seu primeiro ato: a retirada do selo Creative Commons do site do ministério.  CC oferece uma relação mais livre dos usuários com as obras artísticas, mas repassando o custo ao autor, instado a reduzir seus direitos autorais. O gesto lhe valeu a pecha de "ministra do Ecad", para classificá-la de retrógrada.
Esse e outros episódios resultaram na desistência da contratação do sociólogo e cientista político Emir Sader - convidado por ela própria para dirigir a Fundação Casa de Rui Barbosa- que a chamou pelos jornais de "meio autista". Uma ala do PT disse que a dispensa de Sader foi do Palácio do Planalto. Ana, aqui, diz que foi dela.
A aprovação de captação de R$ 1,3 milhão em incentivos para Maria Bethânia elaborar um blog de poesia reabriu velhas e espinhosas discussões referentes à Lei Rouanet. Ana considera o episódio "uma tempestade em copo d"água."
Na semana passada, ela ouviu do governo norte-americano, durante a visita de Barack Obama ao Brasil, preocupações em torno de propostas de flexibilização dos direitos autorais apresentadas por seu antecessor, Juca Ferreira. Na visão dos americanos, elas poderiam representar um estímulo à pirataria.
Nessa entrevista ao Estado, a ministra aborda diretamente esses e outros temas, garantindo que a ação do governo em relação aos direitos autorais terá como limite a não intervenção nas relações contratuais privadas.
A senhora até agora falou pouco e ouviu muito. Está sendo um começo difícil?
Qualquer anúncio de mudança gera insegurança. Por mais que tentemos esclarecer que estamos estudando as questões, as pessoas querem respostas imediatas. Aí começam a sair versões do que poderia estar certo ou errado. Eu nunca tive uma situação como temos agora, de sentar para responder.
Qual foi sua primeira impressão ao ler o projeto de lei do ex-ministro Juca Ferreira, que pede mudanças na atual lei dos direitos autorais?
Aquela proposta me assustou um pouco. O direito do autor está previsto na Constituição, é uma cláusula pétrea. Ele tem que ser respeitado. Comentava-se muito no meio cultural que as mudanças estavam deixando o autor em uma situação frágil em vários aspectos.
Por exemplo?
Quando se falava das cópias de um livro, por exemplo. Se essa obra for editada sem autorização, pela lei vigente, a obra seria recolhida e o infrator pagaria uma multa de, se não me engano, o equivalente a 30 mil cópias. A proposta de reforma já falava em multa de até 30 mil livros. Ou seja, a multa poderia ser de um, dez ou 30 mil. São detalhes que deixam o detentor dos direitos em situação frágil. 
As mudanças da lei propostas por Juca davam ao presidente da República poder para conceder os direitos de obras em casos especiais. A senhora já retirou esse poder do presidente e o repassou ao Judiciário. Qual é o limite da participação do Estado em questões ligadas aos direitos autorais?
Sinto ainda que existe uma interferência muito forte do Estado no projeto de lei e isso, de uma certa forma, vai infringir a Constituição. O direito de associação de artistas é permitido pela lei, é livre. Então o intervencionismo do Estado (na fiscalização do Ecad) é muito complicado. Mas entendo que é necessário haver, sim, uma transparência para os autores sobre seus rendimentos.
A senhora está dizendo que o Estado vai fiscalizar o Ecad?
Eles devem apresentar um balanço público (sobre o que arrecadam em direitos autorais).
O que a senhora discutiu com o secretário do comércio dos EUA, Gary Locke, durante a visita de Obama ao Brasil?
Ele estava muito preocupado com a questão da liberação dos direitos. De como a flexibilização no direito autoral pode acarretar mais tolerância com a pirataria. Isso não preocupa só os americanos, preocupa nossa indústria cinematográfica, editorial, fonográfica. Estão com medo de que essa produção seja fragilizada. É muito preocupante essa possibilidade de a gente liberar para o mundo nossa produção. Isso pode desestimular os artistas. Por que vão editar obras no Brasil se o Brasil não as protege?
Foi pensando assim que a senhora mandou retirar o selo do Creative Commons, que propõe maior liberdade nos licenciamentos de obras artísticas, do site do Ministério da Cultura?
Eu achei muito estranha a gritaria que esse caso criou. Aquele selo era uma propaganda dentro do site do MinC. Não existe a possibilidade de você fazer propaganda ali. A responsável agora sou eu e eu não podia permitir que isso continuasse.
A decisão da senhora então não foi ideológica?
Não, foi administrativa.
Então, ideologicamente, o que a senhora pensa dessa nova relação de direitos autorais proposta pelo Creative Commons?
A questão que me preocupa é que a concessão de direitos no Creative é irreversível. Há sempre um prazo para uso de direitos autorais. Eu posso ceder minha obra para tal uso por cinco, dez anos e depois eu posso reaver essa obra. Mas é bom dizer que essa decisão, de usar o Creative Commons, cabe unicamente ao autor.
Palavras da senhora no discurso de posse: "É importante democratizar tanto a produção quanto o consumo da cultura". A reforma na lei dos direitos autorais e o Creative Commons são em tese democratizantes, no sentido de que garantiriam que a cultura chegaria a mais pessoas. Democratizar está sendo mais difícil do que a senhora imaginou?
A democratização é possível sempre, mas ela tem de prever também o pagamento àqueles que criam. Um autor de um livro que trabalha dez anos com pesquisa vive disso. O direito autoral é o salário dele.
A internet foi o paraíso para muita gente, já que o preço de um CD se tornou inacessível para muitos. Como fazer com que esse consumo continue sem prejuízo para os autores?
Essa é uma questão, sim, que tem de ser estudada nos próximos passos que vamos dar. Agora há pouco, vi um estudo no Canadá que sugere cobrança dos direitos de provedores. Estamos nesse impasse entre a proibição absoluta - que é quase impossível, já que as pessoas estão baixando - e uma liberação que não prevê o pagamento de direitos.
Maria Bethânia teve a aprovação do Ministério da Cultura para captar via Lei Rouanet R$ 1,3 milhão para criar um blog de poesia. Qual a opinião da senhora sobre isso?
Isso foi uma tempestade em copo d"água. Projetos assim são aprovados mensalmente. A lei, que tem também modificação pedida no Congresso, prevê essa possibilidade. Não cabe a mim analisar ou interferir em uma questão que é julgada por uma comissão, que antes passa por pareceristas que analisam os preços e se o projeto é cultural ou não. E o mérito não é de qualidade, mas se é cultural ou não é cultural. Se os preços foram aprovados, está ok.
Ninguém contesta que o projeto de Bethânia seja legal, mas esse dinheiro não deveria ser garantido a artistas com menos recursos?
Olha, isso tudo está sendo revisto nessa reforma da lei que está no Congresso. Queremos favorecer mais o Fundo Nacional de Cultura, que poderá facilitar essa divisão melhor e que atenderia aos produtores que normalmente não atraem o patrocínio das empresas privadas. As empresas querem associar seus nomes a artistas consagrados, faz parte das leis de mercado.
E assim os departamentos de marketing acabam definindo a política cultural do País.
Sim, isso. A atual Lei Rouanet tem esse viés, que era necessário ser equilibrado. Chega a ser perigosa porque quase que exclusivamente se faz atividade cultural no País através da Lei Rouanet. Passou a ser imperiosa. Quando falamos da necessidade da cultura ser autossustentável, vejo como a Lei Rouanet foi prejudicial. Qualquer evento que se faz começa a ficar um megaevento e a ter custos mais altos. E para os artistas se inserirem nisso, precisam ter o nome forte. Agora, uma atividade mais experimental, nova, que não estiver no gosto do mercado, vai ter uma difícil aceitação. A Lei Rouanet viciou o mercado a trabalhar só através dela.
A senhora, como cantora, tentou emplacar projetos pela Lei Rouanet?
Eu não. Bem, até vi em um jornal que houve um proponente de um projeto meu que não foi aprovado, também porque a Lei Rouanet tem uma série de trâmites complicados. Acho que isso foi no período em que eu estava com o projeto de um disco e aí depois consegui trabalhá-lo de outras formas. Foi um projeto para ser aprovado, era um disco meu, sim, que depois acabei fazendo.
O grande público, alheio a Creative Commons, Lei Rouanet, direitos autorais, percebe que entra e sai ministério e uma coisa não muda: cinema, shows e teatro são cada vez mais caros. Como se muda isso?
Mas aí você está falando dos grandes, né? A Cinemateca, por exemplo, tem um acervo fantástico que distribui filmes para os pontos de cultura (centros de cultura nas periferias), os cineclubes estão crescendo. Você está falando das grandes estrelas.
Foi da senhora ou do Planalto a decisão de desistir da contratação do sociólogo Emir Sader para a Casa Rui Barbosa? (Em entrevista, Emir se referiu à ministra como "meio autista")?
Não, eu agi. Levei, conversei com o Palácio, sim, mas deixei claro que a decisão era minha, cabia a mim.
A senhora fala muito dos pontos de cultura, mas a situação deles é caótica, o dinheiro de alguns nunca chegou...
Já tive encontro com os representantes dos pontos. É assustador, porque são trabalhos em comunidades carentes. O princípio dos pontos é maravilhoso. O governo vai à comunidade e reconhece um trabalho cultural que já está sendo desenvolvido. Fazemos um trabalho para auxiliá-los, ajudamos a se equiparem melhor. Agora, alguns estão sem receber há algum tempo.
Não chegou o dinheiro de 2010.
Há outros que estão sem receber desde 2008. Alguns com problemas com documentação, mas há uma parte legal. E tem nosso orçamento que está bastante restrito, não só da Cultura, mas houve um corte grande.
Esse dinheiro chega este ano?
Já está sendo liberado. Vamos quitar com eles essa dívida.
Como a senhora, uma artista de formação e berço, chega para fazer política em Brasília?
Eu tive várias etapas da minha vida em que já passei por algumas experiências como esta. Estive envolvida na política pública em São Paulo.
Sim, mas Brasília é diferente. A senhora não sente dificuldades no jogo político?
Olha, em Osasco era um microcosmo disso, eu sentia lá também a pressão da sociedade, dos artistas, do executivo querendo fazer uma coisa mega. Eu sei que vou incomodar, você não pode atender a gregos e troianos. Agora, o fato de ser mulher ou ter um jeito delicado no falar não quer dizer que eu seja fraca ou insegura. Não sou nem um pouco insegura.
A senhora divide assuntos com seu irmão, Chico Buarque?
Eu acho que tudo o que ele não quer é que eu fique falando dos problemas do ministério (risos).
O Chico não queria que a senhora aceitasse o convite para ministra, certo?
Ele ficou assustado não por ele. Aliás, não só ele. Somos sete irmãos, todos ficaram assustados porque sabiam que o jogo era violento. E confesso que é mais violento do que eu imaginava. Porque esses movimentos organizados agiram com uma agressividade muito grande. E estão agindo ainda.
A senhora tem amigos na cúpula da música brasileira. Como ministra, está disposta a comprar briga com eles?
Eu acho que eles não vão brigar comigo, não. Como amigos, eu não os perco.
QUEM É
ANA DE HOLLANDA
CANTORA E COMPOSITORA
Nascida em São Paulo, em 1948, estreou musicalmente em 1964, no palco do Teatro do Colégio Rio Branco, no show Primeira Audição, integrando o grupo vocal Chico Buarque e As Quatro Mais. Já lançou quatro discos.









O galo de ouro Eder Jofre, uma lenda de 75 anos

O galo de ouro Eder Jofre, uma lenda de 75 anos
O bicampeão mundial de boxe, Eder Jofre, que completa 75 anos hoje, dia 26/03/2011.
Há 35 anos longe dos ringues, maior boxeador do Brasil de todos os tempos aumenta cada vez mais seu prestígio internacional no mundo da nobre arte
26 de março de 2011
0h 00
Wilson Baldini Jr. - O Estado de S.Paulo
SÃO PAULO - Eder Jofre festeja hoje 75 anos. Há 35 encerrou a vitoriosa carreira, mas permanece com um prestígio inabalável no mundo do boxe. Apontado como o maior peso galo da história da nobre arte - ganhou também o cinturão dos penas - o eterno Galo de Ouro, assim como acontece com outros esportistas nacionais, como Maria Esther Bueno e Adhemar Ferreira da Silva, goza de maior fama no exterior. "Eder tinha tudo que um grande lutador deve possuir. Para coroar o pacote, ele também tinha um queixo de ferro e de resistência, a exemplo de Jake LaMotta e Carmen Basilio", escreve o Cyber Boxing Zone, site especializado. "Talvez a qualidade mais impressionante tenha sido a capacidade de adaptação. Jofre era um lutador muito inteligente, que poderia mudar seu estilo para se ajustar a qualquer tipo de adversário. Ele poderia ser brigador, clássico... O cara era uma obra de arte."

Para mostrar que o comentário do site sobre o pugilista brasileiro não é exagerado, pode-se lembrar que Sugar Ray Robinson, apontado em quase todas as listas como o maior boxeador de todos os tempos, fez questão de posar ao lado de Eder, em 1960, antes de o lutador nacional enfrentar o mexicano Eloy Sanchez, quando ganhou o primeiro título mundial, em Los Angeles.

O jornalista norte-americano Ted Sares tem outra definição para o pugilista brasileiro. "Com um poder de soco em ambas as mãos, Jofre também tinha grandes habilidades técnicas e reflexos, ao melhor estilo Sugar Ray Robinson", analisa. "Ele tinha o gancho e o direito em linha reta; um inferno. Ele tinha tudo. Um perfurador de corpos."

Com tanto reconhecimento nos Estados Unidos, Eder entrou para o Hall da Fama do boxe em 1992. "A maioria dos fãs norte-americanos não tiveram a oportunidade de vê-lo em ação, mas nos anos 60 Eder Jofre foi considerado o melhor lutador libra por libra em todo o mundo", afirma Ed Brophy, diretor executivo do Hall da Fama.
Em livrarias de Nova York é possível comprar pôsteres do ex-pugilista por US$ 30,00 (R$ 51,00) ou camisetas com o rosto do campeão por US$ 40,00 (R$ 68,00). Algo impensável em São Paulo, onde nasceu na Rua do Seminário e passou a infância no Parque Peruche. "Eder Jofre só não é maior por causa da falta de imagens de seus combates", diz o escritor Thomas Hauser, que escreveu, entre muitas outras obras, biografias de Muhammad Ali. "Jofre foi um dos maiores de todos os tempos."

A lendária revista The Ring classificou Eder como o 9.º melhor de todos os tempos. Dan Cuoco, diretor da International Boxing Research Organization (Organização Internacional de Pesquisa de Boxe), vai além. "Vi muitas lutas dele e posso dizer, sem medo de errar, que Eder Jofre foi o melhor boxeador que nasceu abaixo do Equador."

O respeito por Eder vem também até do único adversário a vencê-lo em 20 anos de carreira. "Foi o maior adversário da minha carreira. Fiquei em pânico quando descobri que iria lutar com ele. Era muito resistente e um grande pegador", afirma o japonês Masahiko Fightning Harada, que bateu o brasileiro duas vezes. Em 1965 e 1966, ambas no Japão. No total, Eder lutou 81 vezes, com 75 vitórias (53 nocautes) e 4 empates.

Eder também se transformou em ídolo de lendas do boxe. "Quando penso em Brasil, penso em Eder Jofre. Assisti a muitos teipes de suas lutas e gostava do seu estilo agressivo. Foi um grande campeão", diz Mike Tyson, ex-campeão mundial dos pesados.
O mexicano Carlos Zarate, outro grande campeão dos galos, mas nos anos 70, também enumera elogios ao brasileiro. "Gostaria muito de ter lutado contra Eder. Fomos grandes lutadores, mas melhor assim. Um poderia perder e poderia ter sido eu", disse o pugilista, que ganhou 63 vezes por nocaute em 66 vitórias.
O também mexicano José Sulaymán, presidente do Conselho Mundial de Boxe, prevê. "Não acredito que o Brasil tenha outro Eder Jofre. Ele parou de lutar há mais de três décadas e quem gosta de boxe sabe quem é Eder Jofre. Ainda se fala muito dele. Vocês (brasileiros) devem se orgulhar dele tanto quanto nós nos orgulhamos."

Apesar do peso da idade, Eder segue se exercitando, mantém bom reflexo e continua com um forte soco. "75 anos! Puxa vida! Passou rápido. Mas não posso me queixar. Deus foi bom comigo", agradece o Galo de Ouro.


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Fantasmas poderosos

Fantasmas poderosos
Nenhum ‘ex’ dorme em paz depois de ter entrado em contato com os prazeres do poder
Marco Aurélio Nogueira

Fantasmas e pesadelos costumam atormentar todos os que tiveram poder um dia. O universo dos "ex" é heterogêneo, mas nenhum deles dorme inteiramente em paz depois de ter entrado em contato com os prazeres que integram o cotidiano de um poderoso. Mesmo suas agruras e aborrecimentos são de um tipo especial. Viciam, causam dependência.
A maldição não perdoa ninguém, ainda que nem todos reajam do mesmo modo. Há os que sofrem em público e os que se recolhem, os discretos e os escandalosos, os que retomam a vida de antes e seguem em frente e os que não se conformam e não sabem o que fazer. Quanto mais alto o grau de poder, maior o problema. Quem já foi presidente da República tem mais dificuldade para assimilar a perda súbita ou anunciada de poder do que um chefe de seção desalojado do cargo.
O filósofo inglês Thomas Hobbes escreveu no século 17 que a tendência geral dos humanos era "um perpétuo e irrequieto desejo de poder, que cessa apenas com a morte". Segundo ele, isso acontecia não porque os homens buscassem um prazer sempre mais intenso, mas porque intuíam que a conservação e a ampliação constante do poder eram essenciais para que mantivessem o que possuíam. Maquiavel, na Itália, se inquietava diante da dificuldade para "determinar com clareza que espécie de homem é mais nociva numa república, a dos que desejam adquirir o que não possuem ou a dos que só querem conservar as vantagens já alcançadas". Não economizaria palavras: "A sede de poder é tão forte quanto a sede de vingança, se não for mais forte ainda". Idêntica preocupação teria Max Weber, que dizia que quem mexe com o poder faz um "pacto com potências diabólicas" e vai descobrindo que o bem e o certo nem sempre têm significado unívoco. O poder tem razões que a razão desconhece.
Alguém que deixa o poder defronta-se antes de tudo com o fantasma daquilo que perde: os rituais, a vida distinta, os mimos e mesuras dos subordinados, o conforto do palácio. Precisa se acostumar com os ruídos alheios e esquecer o som da própria voz. Há quem diga que sente certo alívio ao voltar ao anonimato e se libertar da agenda carregada, das liturgias cansativas, do excesso de exposição. Mas a ausência disso pode se assemelhar a uma crise de abstinência, que termina por levar o ex-poderoso à busca inglória de um lugar ao sol semelhante ao que desfrutava nos dias de fausto.Talvez para compensar tais dissabores, mas também para dignificar personagens que tiveram um papel na história, a República brasileira concede regalias vitalícias aos ex-presidentes: automóveis, funcionários e homenagens, além dos salários. Algo semelhante ocorre nos Estados Unidos. Uma vez presidente, sempre presidente.
Um fantasma mais assustador é saber o que fazer com as longas horas do dia, dar rumo à vida, retomar a atividade anterior ou iniciar novo percurso. O esforço para recuperar o que ficou para trás quase sempre é em vão. Muito tempo se passou, novos hábitos se cristalizaram, carreiras profissionais foram interrompidas. Aí mora o desejo de permanecer ativo na mesma área em que obteve fama e prestígio, falando e agindo como se ainda fosse o mandatário. É instigado a analisar falas e estilo de quem está no lugar que um dia foi seu. Chovem-lhe oportunidades para que atue como sombra ou alter ego, alguém que pode ser conselheiro, ponderar, sugerir, auxiliar. Ex-presidentes costumam valer muito no mercado das palestras e conferências, por exemplo. Precisam se esforçar para não cair em tentação.
Nesse ponto, o ex-poderoso depara-se com seu pior pesadelo: o de sair perdendo ao ser comparado com o sucessor. As comparações são inevitáveis. Inimigos as incentivam, rasgam elogios ao rei posto para despertar o ciúme do rei morto e intrigar os dois.
Não é, portanto, acidental que o ex-presidente Lula esteja repetindo que "o sucesso da Dilma é o meu sucesso; seu fracasso é o meu fracasso". Ele não pode correr o risco de ser visto como estando a ofuscar sua sucessora, nem deixar que sugiram que a nova presidente o supera em algum quesito. Tem razão em reclamar da malandragem de seus adversários, que, depois de terem passado anos dizendo que ele dava continuidade ao governo FHC, agora não param de falar que a gestão Dilma - carne de sua carne - está rompendo com os oito anos da sua Presidência. Mas também é verdade que ele, ao fazer isso, procura se aproximar da imagem positiva que Dilma possa estar obtendo junto à opinião pública. Não se trata só de mágoa, há muito cálculo no gesto.
Amado e odiado indistintamente, o poder perturba, corrompe e alucina. Reprime, castiga e prejudica, mas também acalenta, protege e beneficia. Costuma ser utilizado para conservar e para transformar. É instrumento e objeto de desejo, encargo e meio de vida. Sua "face demoníaca" não perdoa os que com ela convivem, sejam eles presidentes da República, governadores de Estado ou CEOs de uma multinacional. O poder sobe à cabeça, cega, embriaga. Pode ser letal.
MARCO AURÉLIO NOGUEIRA É PROFESSOR DE TEORIA POLÍTICA DA UNESP. AUTOR DE O ENCONTRO DE JOAQUIM NABUCO COM A POLÍTICA (PAZ E TERRA)




sábado, 26 de março de 2011

Portugal teria a ganhar em tornar-se uma província do Brasil

Portugal teria a ganhar em tornar-se uma província do Brasil
(26/03/2011)
Colunistas do Financial Times lançam uma proposta provocatória para resolver a crise de dívida: que Portugal seja anexado pelo Brasil. A imprensa britânica não poupa na ironia para apontar saídas para a crise de dívida que Portugal atravessa. A equipa de colunistas do Lex do Financial Times diz que Portugal podia tornar-se uma província do Brasil."Aqui vai uma maneira ‘out-of-the-box' para lidar com o problema: anexação pelo Brasil (uma década de 4% de crescimento anual do PIB, muito mais elevado recentemente). Portugal seria uma grande província, mas longe de ser dominante: 5% da população e 10% do PIB". E falam das vantagens, apesar da perda de ‘status'. "A antiga colónia tem algo a oferecer, mesmo para além da diminuição dos ‘spreads' de crédito e, proporcionalmente, défices e contas correntes governamentais muito mais baixos. O Brasil é um dos BRIC, o centro emergente do poder mundial. Isto soa melhor lar que uma cansada e velha União Europeia", escreve o FT, numa alusão aos avanços e recuos do Velho Continente em lidar com a crise de dívida soberana. Além disso referem que a União Européia considera Portugal problemático: "Sem governo, elevada resistência à austeridade e crónico desempenho económico".