segunda-feira, 2 de novembro de 2009

ORIGEM CURIOSA DE PALAVRAS E EXPRESSÕES

ORIGEM CURIOSA DE PALAVRAS E EXPRESSÕES
Sérgio Martins Pandolfo*
“A etimologia é a certidão de nascimento da palavra”. SerPan

Cotidianamente nos deparamos na mídia, em qualquer de suas vertentes, ou mesmo em publicações literárias, com palavras ou expressões de origem incerta, duvidosa ou não sabida, que por serem de uso corrente, popular e já arraigado nos passam despercebidas. Neste texto damos, a seguir, alguns exemplos bem expressivos.
Brechó - negociante de roupas e objetos usados; alfarrabista; sebo (livraria). Corruptela de Belchior, nome do comerciante que estabeleceu, no Rio de Janeiro, a primeira casa de compra e venda de roupas e objetos usados.

Larápio - ladrão, gatuno, desonesto. Em Roma, um pretor de nome Lucius Antonius Rufus Appius, que se assinava L.A.R. Appius, exarava sentenças favoráveis a quem melhor por elas pagassem.

Verônica - nome próprio pelo qual ficou conhecida a mulher não identificada que, saída da multidão, enxugou o rosto sangrante de Jesus com um véu (Manto de Verônica), no qual ficou impressa a imagem do Salvador. Hoje bastante comum, o nome originou-se da junção dos termos latinos vero (verdadeiro) e ícone (imagem).

Gari - empregado da limpeza pública; varredor de ruas. Antroponímico de Aleixo Gary, incorporador de uma antiga empresa responsável pela limpeza das ruas cariocas. .

Carrasco - o que executa a pena de morte; cruel, malvado, verdugo. Antropônimo de Belchior Nunes Carrasco, algoz que terá vivido em Lisboa antes do século XV e que era o executor oficial dos condenados à morte.

Bonde - veículo de transporte urbano. Aquando da instalação desses veículos, no Rio de Janeiro, a companhia inglesa que explorava o serviço mandou confeccionar cupons que serviam de bilhetes ou passagens, nos quais vinha estampada a figura do carril sobreposta à palavra inglesa bond (obrigação, contrato exigível, título negociável).

Valdevinos - estroina, doidivanas, vagabundo. Antropônimo de Balduíno, cavaleiro que aparece em romances de cavalaria, pela forma Valdovinos.

Gasparino ou Gasparinho - fração de bilhete lotérico. Do antropônimo Gaspar (da Silveira Martins), político brasileiro que em 1878, ministro da Fazenda, autorizou o fracionamento dos bilhetes de loteria. .

Realengo - subúrbio carioca. Na estação ferroviária da Central do Brasil que servia à parada do Real Engenho, a placa identificadora trazia grafado Real Engº, que o povo de menor cultura lia realengo. .

Epitáfio - inscrição que se põe nas lápides dos túmulos. Do grego epitaphion (de epi = por cima + taphos = túmulo), através do latim epitaphiu.

Fecho Ecler - tipo de fecho rápido usado nas roupas, pastas, maletas, etc., atualmente também conhecido como zíper (do inglês zipper), marca registrada de uma botina com esse fecho. Do francês “fermeture éclair”, literalmente “fecho relâmpago”, porque se abria e fechava com rapidez.

Futebol - o popular jogo em que somos pentacampeões mundiais. Do inglês “football”, formado de foot (pé) + ball (bola). Há um termo vernacular português, ludopédio, proposto para substituir o anglicismo. Não pegou.

Índio - os silvícolas das Américas. Ameríndios. Colombo saiu da Espanha tencionando circundar a Terra para chegar às Índias. Errou os cálculos e, ao aportar nas Bahamas, julgava ter atingido as costas indianas, denominando os nativos de índios.

Manequim - boneco que representa homem ou mulher e é usado para estudos científicos, trabalhos de costura ou para expor roupas em vitrines. Do holandês mannekijn (manne = homem + kijn = zinho), através do francês “mannequin” = homenzinho.

Preto no branco - registrar por escrito, explicando minudentemente. Pôr o preto (a tinta) no branco (o papel), para fazer o registro .

A sete chaves - algo seguro, bem guardado e protegido. Com o deslanche das navegações ultramarinas, Portugal sentiu a necessidade de manter seguros documentos sigilosos, bem como a quota-parte (imposto) da Corte, relativa ao ouro extraído das colônias. Por isso utilizava arcas ou cofres providos de fechaduras que só abriam com a introdução de seis chaves diferentes nos respectivos orifícios. Cada chave ficava com um funcionário graduado, dignitários do reino, às vezes com o próprio rei. O dito popular aumentou para sete, o número de chaves, a fim de enfatizar a extrema segurança do que está bem guardado. Mais seguro que os haveres do reino!

Puxa-saco - bajulador, adulador, chaleira. Gíria militar com que eram designados os ordenanças que submissamente carregavam os sacos de roupas dos oficiais em viagem.

Carcamano - designação pejorativa dos italianos, em especial os vendedores de gêneros alimentícios. Corruptela de calca a mão, com que se os imputavam de praticarem, ao pesar os produtos, para aumentar o peso .

Cuspido e escarrado - igual, semelhante, muito parecido. Deturpação popular do dito original: esculpido e encarnado.

Mal e porcamente - de forma insuficiente, deficiente. Corruptela popular da expressão inicial: mal e parcamente (pouco, escasso).

Rameira - mulher da vida, prostituta. Assim denominada porque à altura dos séculos XV e XVI, em Portugal, as tabernas que contavam com mulheres disponíveis para serviços sexuais remunerados costumavam assinalar isso colocando, na porta, ramos de árvores.

De mão beijada - de graça, gratuitamente. Quando um súdito recebia graciosamente um presente do rei, a única retribuição possível era beijar, respeitosamente, a mão da majestade, em agradecimento.

Mausoléu - sepulcro suntuoso. Em alusão ao túmulo de Mausolo, rei da Cária (na Turquia), que sua mulher Artemisa mandou erigir em Halicarnasso (capital da Cária), de tal suntuosidade que foi tido como uma das sete maravilhas do mundo.

Amazona - mulher que anda a cavalo: mulher corajosa, aguerrida. O termo deriva do grego amazon, formado pelo prefixo a = não, sem e pelo radical mazos = seio, para designar mulheres lendárias que, na Antiguidade, teriam vivido às margens do mar Negro. Segundo a lenda, extirpavam o seio direito para facilitar o uso do arco e melhor guerrearem. No século XVI, a designação foi dada por Francisco Orellana a mulheres com iguais características, cuja existência histórica é discutida, e que teriam combatido os conquistadores ibéricos na região depois denominada Amazônia, por conter o “rio das Amazonas”.

Parauara – designativo gentílico do nascido no Estado do Pará. Mesmo que paraense. Vem do tupi para’wara, que quer dizer: o que nasceu das águas (do rio-mar). Assemelhadamente ao neologismo paraensismo costumamos nos valer do derivado parauarismo para caracterizar o ufanismo do povo lá originado por seu torrão setentrional (o Pará).

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